terça-feira, 23 de dezembro de 2014

UM DIA NA CHUVA




Chuva que cai levantando cheiro de terra
Cheiro de terra molhada
Cheiro do interior, do mato, aves e animais
Paisagens e montanhas com riachos e florestas
Que abrigando aves molhadas
E debaixo de suas assas se encolhem
Se protegem, se escondem
Animais entocados tocaram em debandada

Chuva cultivando a semente que dará o jantar
Vai para o fogão a lenha cozinhando o cozido
Fumo que sobe da madeira ardente
Arroz queimado grudado no fundo do tacho
Rede esticada no terraço

Barulho da chuva pingando do telhado
É a percussão da bateria quando bate sobre a velha lata caída ao chão
A mesma que serve de prato para o alimento do adormecido cão
Fiel companheiro guarda costas do casebre da roça

Canto do vento soprando e assobiando
Rasgando pelas paredes dos sobrados das vielas
Balançando galhos que derrubam suas folhas
Mangas e jacas que não resistem e perdem suas forças
O jantar do gado que pasta e tranquilamente desfila

Um menino corre molhado, brinca e se diverte
A chuva faz encher a represa para se banhar e perfumar
Mata a sua sede
Hora de voltar e descansar
Tempo de dormir
O cair da chuva que traz frescor no verão

Noites quentes e corpos nus abraçados
Em suaves movimentos de prazer
Proporcionado pelo tranquilo e oportuno som da chuva
Sobe o cheiro do suor dos corpos agitados
Suspiros e gemidos ropem este silêncio da chuva da madrugada

Madrugada que segue seu caminho em sua rotina
Observando a escuridão vazia das ruas
Esperando se despedir ao raiar do dia
No cantarolar do galo
Grito desesperado para acordar a cidade
E assim, sair às ruas barrentas, pisando nas poças
Viver um novo dia
Criando um enredo para este meu roteiro escrito até a despedida


Wagner Pires
in, Crônicas de Um Andarilho

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