Chuva que cai
levantando cheiro de terra
Cheiro de terra molhada
Cheiro do interior, do
mato, aves e animais
Paisagens e montanhas
com riachos e florestas
Que abrigando aves molhadas
E debaixo de suas assas se encolhem
Se protegem, se escondem
Animais entocados tocaram em debandada
Chuva cultivando a
semente que dará o jantar
Vai para o fogão a
lenha cozinhando o cozido
Fumo que sobe da
madeira ardente
Arroz queimado grudado
no fundo do tacho
Rede esticada no
terraço
Barulho da chuva
pingando do telhado
É a percussão da bateria quando bate sobre a velha lata caída ao chão
A mesma que serve de prato para o alimento do adormecido cão
Fiel companheiro guarda
costas do casebre da roça
Canto do vento
soprando e assobiando
Rasgando pelas paredes
dos sobrados das vielas
Balançando galhos que
derrubam suas folhas
Mangas e jacas que não
resistem e perdem suas forças
O jantar do gado que
pasta e tranquilamente desfila
Um menino corre molhado, brinca
e se diverte
A chuva faz encher a
represa para se banhar e perfumar
Mata a sua sede
Hora de voltar e descansar
Tempo de dormir
O cair da chuva que traz frescor no verão
Noites quentes e corpos
nus abraçados
Em suaves movimentos de
prazer
Proporcionado pelo
tranquilo e oportuno som da chuva
Sobe o cheiro do suor
dos corpos agitados
Suspiros e gemidos ropem este silêncio da chuva da madrugada
Madrugada que segue seu caminho em sua rotina
Observando a escuridão vazia das ruas
Esperando se despedir ao raiar
do dia
No cantarolar do galo
Grito desesperado
para acordar a cidade
E assim, sair às ruas
barrentas, pisando nas poças
Viver um novo dia
Criando um enredo
para este meu roteiro escrito até a despedida
Wagner Pires
in, Crônicas de Um Andarilho
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