terça-feira, 7 de abril de 2015

MEU ROTEIRO ITINERANTE

imagem: https://blog.iazamoveisdemadeira.com.br/design/que-tal-um-toque-vintage-na-decoracao/11/


          Foram subidas e descidas na serra do mar: Santos, São Vicente, Praia Grande, Guarujá. Peruibe, Itanhaém, Mongaguá. Era um sobe e desce constante.
          Até que definitivamente se estabeleceu no planalto. Mas em uma vida recheada de viagens sem parada. Foram muitas, algumas bem rápidas, diversas. Divertidas.

          Este pequeno rebento caçando coelho num sítio em Jundiaí para que fosse parar numa grelha e completar o cardápio do almoço.
          No final da tarde, aquela reunião da família para a tradicional foto em preto e branco, encostados num chamoso Aero Willis verde claro.
          Do alambique de Serra Negra só saboreei mesmo  foi o doce de leite de Águas de Lindóia, e este sabor permanece até hoje em minha memória.
          Bem lá distante, esta mesma cidade nos recebeu para um encontro de casais, e resolver seus, e também meu, problemas
conjugais.
          Por falar em águas, não posso esquecer de mencionar o bate e volta em Águas de São Pedro, São Pedro e a própria Lindóia, que da nome e fornece água mineral.
          Nestes bate e volta, ainda teve Eldorado e suas cavernas:
Caverno do Diabo - Estalactites e estalagmites, um riacho gelado, simpático, calmo e tranquilo. Uma estrada sossegada e sinuosa.

          Marília, Marília, Roteiros de Uma Rotina vivida numa timidez que intriga.
          Teve ainda, lá nos primórdios da juventude, uma fuga para o carnaval de Bocaina. Sim foi literalmente uma fuga, um adolescente irresponsável. E, de Jaú, tive que vir escoltado, escoltado até a capital.
          Mas como eu disse, era um adolescente irresponsável (nem tanto assim), e como era carnaval, fui direto para o litoral, com um lorota para poder embarcar.
          E por falar em carnaval, viagem de trem até Bauru. O tempo mudava a cada cidade, a cada estação: pelo caminho muita chuva e eu pendurado na porta, logo em seguida um sol que imediatamente me secava. O vento partia meu rosto, que foi salvo  pelo corrimão que segurou o papel higiênico jogado pela janela do banheiro do vagão que ia à frente. Ainda tivemos um divertido acidente a caminho de Dois Córregos, e que nos fez ir até em Barra Bonita, às margens do rio Tietê, e apreciar a famosa barragem. De barrados no hotel até celebridades por viramos correspondentes da Rede Globo Oeste Paulista.

            Ah, as belas meninas de Riberão Preto e o mais famoso
chopp do estado de São Paulo.
          Belas também são as praias catarinenses: Navegantes,
Cabeçudas, Balneário Camboriú, atravessando pela balsa em
Itajaí.
          Certa vez, passando por Gaspar, ia ficando pelos lados da linda Blumenau, na sossegada e quase alemã Pomerode. Muito bem recebido e acolhido pela família Kulhmann.
         Petiscos no Froshinn, cerveja no Biergarten, empório da Vila Germânica da Oktoberfest. Malas prontas, emprego arranjado na Rádio Tropical e na TV Atlântica, mas eu não era mais louco que o Batman.

          O vento minuano que cortava o Jardim Lindóia, em Porto Alegre, era implacável. O tradicional churrasco gaúcho não poderia ter ficado de fora do roteiro. E o Lago Guaiba. Nas lembranças algumas cuias e mate para o chimarrão.
          Frio, também de rachar no Morro do Elefante que tem uma vista incrível de toda a cidade. Vista que me fez voltar por algumas vezes. Para aquecer mesmo só com um chocolate quente no boulevard no fim de tarde, com um valor impagável em Campos do Jordão.

          Sol escaldante em Maceió, jangada até os arrecifes, mergulhar e apreciar os peixes e saborear um drink servido dentro de um abacaxi. Na praia do Francês é ambulante para todos os lados, todos os gostos e bolsos - irritante.
          Nas dunas do Delta do São Francisco escorregar e apreciar a reserva natural que é um nascedouro de tartarugas marinhas. Num pequeno barco atravessamos e em 5 minutos já estamos em Sergipe.
          Para chegarmos no delta, tivemos uma passagem por
Coruripe, e depois em Piaçabuçu.
          Quem nasce em Piaçabuçu é o que?
          Diz aí.
          
          Claro que não poderia passar sem relatar as aventuras boêmia nas noites cariocas de Copacabana, insano.
          Terminando num maravilhoso nascer do sol no Leblon, que ficou registrado num quadro. Insano, também, foi sair de lá correndo para ir para Jacarepaguá e assistir aos GPs de Fórmula 1, uma loucura. Ao final do GP, pular o alambrado, fugir da polícia e ir parar dentro dos boxes, no paddock, no pódio. Muitas fotos para registrar o momento.

          Na rota da Castelo Branco teve o retiro em Mairinque, o futebol em Sorocaba - derrota do Corinthians e fuscão quebrado em Osasco no caminho de volta.
          Teve uma visita à Boituva, que ainda me deve um salto de paraquedas, ou um voo em balão. Mesmo com meu medo de altura, nem que eu vire uma anedota.

          Depois de um tempo, peguei a estrada fugindo da barulhenta e cinzenta São Paulo, com destino à bela, grande e rica cidade de Campinas, onde meu filho nasceu, o meu orgulho.
          Indaiatuba, Valinhos, Hortolândia e a famosa Vinhedo, também ficam registradas. Jaguariúna e Pedreira também.
          Tempos depois fui parar na pequena, porém aconchegante, Mogi Mirim. Morei num casarão de esquina, próximo ao Bosque, que lugar gostoso. Morar lá e dividir o trabalho entre Campinas e Mogi Guaçú.
          Uma rápida passada na sem graça Santa Bárbara D´Oeste, entre Americana e Piracicaba.
          Para quê?
          Melhor esquecer, nem vou perder meu tempo contando alguns
detalhes, deixa para lá.

          Enfim, o destino me levou para a quente e rural Presidente Prudente. Inconscientemente, tudo sendo planejado.
          Com hospedagem em Cambé, parti para oficializar o futuro destino que seria carimbado em Londrina. Neste intervalo, as economias foram recolhidas em Tupi Paulista, Rancharia e Regente Feijó.

          Mariápolis e Flórida. Não foi uma aventura na Disney, foram almoços em família, na Flórida Paulista. A mesma família de Campo Limpo Paulista. Pertinho de Jarinú, aquela do tradicional sorvete artesanal na praça ao domingo.
          Num domingo qualquer,  uma visita surpresa em Cabreúva, depois de um longa jornada em um ônibus um tanto quanto desconfortável e esquisito. Parecia aqueles de filme: galinhas e gaiolas, pessoas da roça, outras vindas das missas.

          Voltando ao tema Presidente Prudente, esta estadia por lá me pregou algumas peças. Estas não da para esquecer, mas enfim, tem que viver. Seguir e viver, tinha algo mais importante por vir.
          E de lá, fazer uma adorável ponte aérea: destino Lisboa com escala em Madrid. Barajas até Chamartín.
          Bons anos, bons tempos. Uma saudade diária, meu choro constante neste meu COTIDIANO. E o muito que me arrependo.
          Lá era trabalho, muito trabalho. Mas, enquanto eu trabalhava, aproveitava para passear e divertir.
          No verão, pelo calçadão da Vila do Conde esbarrava em turistas de vários países. Pude saborear uma deliciosa francesinha. Calma gente, não é um linguajar vulgar. Francesinha não era uma turista, é uma sandes, típico sanduiche da região do Porto.

          Ainda fui ao sul de Portugal. Nos casinos do Algarve não tinha nada de apostas, preparava os jantares do teatro musical, eu era o Chef. Ementa completa: polvo a açoreana, tamboril gratinado, coelho a dona Rosa e arroz doce na sobremesa, tradicional doce português.
          Pratos servidos na rota: Portimão, Vila Moura e Monte
Gordo. Todas as cidades visitadas em uma única vez.
          Mas minha vida não era só trabalho. As férias de verão se passavam nas praias de Sesimbra, sempre na companhia do meu fiel companheiro, meu filho. Batíamos cartão nas praias da Fonte da Telha, pertinho de nossa casa no Jardim das Paivas, Seixal.
          Seixal, um dos meus locais de trabalho, cidade histórica.
          Por falar em história, não esquecer de Sintra. Seus castelos, sua arquitetura, seu clima, sua cultura.
          No caminho, as praias de Cascais no passeio de comboio.
          Com todo este trabalho: do trabalho propriamente
dito, criar meu filho, ainda uma criança, escola, médico
e outras responsabilidades; preocupado, fiz um voo de volta. Que acabou se transformou numa revolta.
          Minha vida precisa de uma reviravolta.

          Neste ínterim, uma confusa pausa nas Minas Gerais de Caratinga e Bom Jesus do Galho.
          Parece aquelas antigas histórias de caminhoneiro meio safado que deixa uma mulher em cada cidade. Não deixei mulher alguma, mas deixei lembranças e saudade.
          Por falar em Minas Gerais, nunca comi um sorvete de queijo tão gostoso, exótico, como em Itajubá. A terra do pão de queijo e do tutu de feijão com fubá.
          Fui de volta para o barulho e a truculenta cidade cinzenta.
          Estou ficando velho, preciso decidir meu incerto destino, tenho que partir antes que eu chegue aos 60.

          Sou um sonhador nato. Queria mesmo era estar em Amsterdã ou Roterdã. Talvez, a história dos Países Baixos faça parte da minha história, da minha vida. Acredito eu, gerou minha vida. Uma semente deixada em João Pessoa, Paraíba. Primórdios do Brasil, tempos da colonização e invasões.
          Um parênteses, eu sou uma miscigenação de negro índio, portugueses da Madeira e trasmontano de Bragança e, provavelmente, holandeses.

          Depois deste parênteses, voltamos às histórias deste sonhador.
          Paris, mesmo que de passagem, será maravilhosa visita. Lembrança daquele verão, mês de agosto de 2008, um projeto que não se concretizou.
          De uma amiga, tive um convite para ir para Zurique. Ficou só na promessa, morar na Suíça seria chic.
          Quero estar mais uma vez em Madrid. Desta vez sem  muita pressa e sem susto de um tímido que caiu de paraquedas. Voltar a Chamartín, conhecer o Santiago Bernabeu.
          Oh, meu Deus!
          "Hala Marid y nada más".
          Pena que o medo não permitiu que vivesse em Bruxelas. Não faltou vontade, nem oportunidade. Era loucura demais, mas valeria muito a pena, afinal, o destino já estava decidido (eu ainda não sabia) - e não foi decidido por mim.

          Um sábado e o telefone tocou, direto de Barcelona, até me surpreendi, nem espera o contato de um amigo me chamando para um trabalho. Mas a empresa não se firmou.
          Em minhas surpresas, copa do mundo no Brasil, outro
telefonema: "DJ? Vem tocar aqui nos pubs da Irlanda". Assim, de repente, sem planejamento, sem dinheiro?  Nem sei se era apenas brincadeira, ou conversa de bêbado. De qualquer maneira, teria que ficar para a próxima oportunidade.
          Nas minhas postagens nas redes sociais fez surgir mais uma coversa: "vem para cá, vem trabalhar aqui" (Nova Zelândia).

          Uma coisa eu tenho como certa, meu planejamento é ir embora, de preferência onde se fala a língua inglesa.
          E o Canadá?
          Não sei se eu me acostumaria com o frio. Quase que o ano todo abaixo de zero, bem diferente de Portugal que tem sol quase que o ano todo, mesmo no frio.
          E, neste caso, quem sabe um dia reviver e morrer em Lisboa. Morar em Belverde ou na Aroeira.
          O que eu preciso é manter esta chama sempre acesa. Trabalhar para realizar o sonho.
          E como não é proibido sonhar, porque não antes disso, passear em Munique e Berlim. Sófia e Varsóvia; Budapeste e Bucareste. De Turim a Póvoa do Varzim...Numa caravana, conhecer a Europa de leste a oeste.

          Um espírito inquieto, desbravador do desconhecido para poder me tornar conhecido.
         Contador de muitas histórias nas Crônicas de Um Andarilho.


Wagner Pires
in, Crônicas de Um Andarilho

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