quinta-feira, 9 de abril de 2015

VIDA NA ROÇA




Meu despertador canta na madrugada e o sol já bate à janela.

            Levanto em direção ao curral para preparar meu café da manhã: leite da vaca, leite da cabra, ambos para dentro da panela.

            Mesa posta com tudo fresco, quentinho. Farinha batida no pilão para fazer o pão no forno à lenha e o cheiro do café passando pelo coador de pano. Queijo caseiro e outras iguarias.
            Muito alimento para suportar o trabalho pesado, com a enxada na mão, bota nos pés, chapéu na cabeça, pois o sol é quente, ninguém aguentaria. Carpir o mato, roçar a terra. Pegar o arado.

            Pensamentos tranquilos apreciando a bela natureza. Som que vem das quedas do riacho é o arranjo instrumental para o cantarolar das aves, cacarejos, relinchar e o coral é completo pelo tom grave dos mugidos do gado: trabalho com som ambiente, naturalmente.

            Terra arada, semente jogada, preparada, esperando a época da chuva cair para regar  e dar os seus frutos grandes, sabaorosos e imponentes.

            Mãos já calejadas, suor escorrendo pelo enrrugado rosto desgastado pelo ardente calor, com a barriga avisando que está ficando vazia. Uma pausa porque o cheiro da lenha, que queima o dia inteiro sem se apagar, já me atiça e a barriga continua a roncar.
            No campo o fuso horário é outro, o almoço serve-se mais cedo. E, depois de farto, quando o sol estiver bem alto, uma sesta para descansar e relaxar.
            Alimento vindo da horta, é abundante. Temperos para diversificar os sabores para saborear: couves, abóboras, salsas e os ovos logo cedo apanhados no galinheiro - codornizes e galinháceos

            A horta é uma terapia, ervas de todos os tipos, legumes, especiarias, muito bem simples, cultivados no fundo do quintal.
            O almoço é para todos, aos porcos no chiqueiro, o gado no pasto, as aves no galinheiro, sem esquecer-me dos pequenos no viveiro. Os equinos procuram seus alimentos soltos por aí, não falta nenhum animal. O pavão calmamente esnobando suas penas na varanda da humilde casa.

            Trabalho, descanso, trabalho, e as crianças correm e se divertem: alegres, e os pés descalços sobre a terra vermelha, isto é que é liberdade.
O trabalho que tem que continuar, as frutas nas árvores necessitam ser colhidas, selecionadas e vendidas na cidade.

            O trabalho no campo é incessante, sobre o gramado, o rastelo varre as folhas secas e os frutos caídos, derrubados pelo vento.
            O sol vai sumindo, descendo escondido atrás dos montes, atrás da floresta, a pequena relva. Regar a roseira, flores rasteiras e as parreiras, temperatura mais fria, este é o momento de se refrescar.

            Tirar a cela do cavalo, ferramentas, alguns apetrechos e outros instrumentos, tudo bem guardado para o dia seguinte com mais trabalho.
            Antes de um banho, ficar na rede com um copo de café bem quente e um pedaço de bolo de fubá, enquanto o joão de barro se ajeita no galho, as borboletas a se assanhar, outros pássaros a viajar, os cães aos meus pés se deitarem.

            Nem chegou a noite, mas é preciso dormir. Ir me deitar, amanhã meu despertador irá cantar quando o sol estiver batendo à minha janela para eu me levantar.

            Este é o COTIDIANO da roça com o ROTEIRO DE UMA ROTINA. Em todo ano, todas as estações, mesmo que caia chuva na campina rompendo o SILÊNCIO, O CULTO a se cultuar.


Wagner Pires
in, Crônicas de Um Andarilho

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